
Nestes dias de luto nacional, venho de render homenagem a 53 oficias, sargentos e praças do Exército Português, todos negros, que receberam ordens de rendição incondicional ao PAIGC no desenvolvimento da revolução de Abril.
Como bons e leais soldados que eram, cumpriram as ordens, confiando nos seus superiores.
Foram fuzilados. Todos.
Como estes 53 comandos, centenas de outros militares negros (não só comandos, mas também fuzileiros especiais e flechas negras) terão sido fuzilados pelos movimentos de libertação da Guiné, Angola e Moçambique, depois de executarem as ordens de rendição.
As ordens vieram de Lisboa e em Lisboa pontuava Mário Soares.
Nunca respondeu por estas inomináveis acções.
A história é feita do que sobre ela fica escrito.
Quem ouve falar as nossas elites, percebe que Portugal prefere enterrar os acontecimentos e episódios do seu passado recente ligado à descolonização na última gaveta do último armário da sua cave mais funda.
Prefere apagar da sua memória colectiva os factos que lhe são incómodos e opta por esquecer o papel dos seus protagonistas.
É humano, porque, de facto, foi vergonhoso.
Mas, por mais honras que se atribuam aos funerais daqueles protagonistas, não é esquecendo e apagando que se lhes devolve a honra.
Esta, uma vez perdida, perdida está para sempre.
Eu lembro-me.
(terá sido coincidência, mas não vi nenhuma boina vermelha nas cerimónias de ontem)
Pedro Brochado Lemos
