
Os portugueses são assim, alguns pelo menos. Acreditam em milagres. Isso já vem do tempo de D. Sebastião. Acreditam nas cenouras que lhes põem à frente do nariz. E depois temos uma classe política para quem o oportunismo é a mãe (ou o pai) de todos os comportamentos. O excelso e omnipresente Presidente da República veio agora tecer rasgados elogios ao governo anterior só porque falta pouco mais de uma semana para Passos Coelho passar para as trevas. Ele adora estar bem com Deus e com o Diabo.
António Costa só é primeiro-ministro porque o oportunismo e o golpismo reinam e florescem cá no burgo. Alguns portugueses e já agora também as portuguesas adoram aquele seu sorrisinho maroto e são martelados quase diariamente com alguns peões de brega que vão dizendo que ele é o tal que devolveu rendimentos, que acabou com a austeridade, que afinal havia outro caminho.
Realmente há sempre caminhos alternativos, mesmo que isso implique sair dos trilhos. O famigerado Coelho foi preparando o país para a modernidade, esta aliança governativa desbaratou tudo. Não reformou nada, antes transformou o caminho para que os derrotados do costume (BE e PC) viessem de novo à tona e quisessem impor uma agenda retrógrada.
O que interessam as gritantes cativações? Nada. Foram feitas reformas na saúde ou as cedências permanentes aos sindicatos impediram o investimento nos hospitais? O sector, pela mão do ministro que um dia se intitulou de esquerda, anda num marasmo de onde já tinha saído pela mão do outro que agora quer aumentar as comissões bancárias na Caixa. É verdade que as dívidas nesse sectoraumentaram exponencialmente pondo em risco os fornecimentos de materiais e equipamentos? E na educação, melhorou-se com todas as cedências possíveis ao “ministro da Fenprof”?
Este é o país que Costas, Catarinas, Jerónimos e quejandos vão preparando, curiosamente com o beneplácito do homem das “selfies”. É o país (o único) em que de repente passámos a ricos unicamente porque sim e porque havia “alternativas”. O país onde continua a campear a precariedade laboral (o que dirão a isto os amiguinhos do PS?) que aumentou bastante relativamente ao que se verificava no tempo “da direita”. No “tempo do outro senhor” BE e PC protestavam, agora calam-se cobardemente.
Este é o país em que se permite que uma aliança de sindicatos “arménios” queira destruir uma fábrica exemplar como a AutoEuropa, mas em que uma Catarina e um Jerónimo se indignam unicamente à procura de votos fáceis com o encerramento de unidades têxteis. Este é o país em que a agenda de uma esquerda espúria para 2018 se foca unicamente na revogação das leis laborais. Está na altura, dizem eles. E isso até que nem seria preocupante se não soubéssemos que o PS não se importa de ceder em tudo às muletas só para se manter no poder.
Vítor Reis
