
Um estudo feito revela que 85% das associações, ONGs incluidas se mantêm a funcionar com recursos públicos.
Bons tempos aqueles em que reportagem sobre desvio de dinheiro público se fazia com políticos ladrões, funcionário corrupto e empresário desonesto. Uma vez apanhados, eles protestavam inocência, num gesto quase protocolar, e saíam atrás de um bom advogado. Claro que ainda há muito disso. Mas uma nova modalidade de negócios com o Estado cresce num ritmo assombroso, baralhando a ética do público e do privado. Trata-se do terceiro sector, que não é empresa nem estado, e vem a desenhar uma área cinzenta de intersecção com o Estado.
No rastro da diminuição do Estado, do aperto na competitividade entre as empresas, e do florescimento da chamada sociedade civil no Portugal pós-ditadura, governantes nos três níveis e “donos” de ONGs, fundações e associações bem situadas exploram uma gama infindável de áreas nas quais serviços podem ser contratados sem licitação, justificados pelo “notório saber” e embalados num espírito de “parceria” e “convênio”, e não mais de relação comercial.
Muitas dessas associações não passam de reuniões de pessoas, que captam a atenção do público em geral para fins sem qualquer relação com o da associação. Normalmente são criados cargos de chefia, entregues a pessoas conhecidas e alguns empregos, entregues também a pessoas conhecidas. Depois vem o resto. A promoção das pessoas que interessa aos “donos” das associações e a captação de dinheiro público, ou seja, do dinheiro do contribuinte, para fins que quase nunca se sabe concretamente quais são. Muitas vezes as associações têm um bom lema, um bom objectivo no papel. Mas na esmagadora maioria dos casos as pessoas estão lá não é por causa desses objectivos do papel. É para se promoverem!
